domingo, 26 de fevereiro de 2017

A Grande Muralha - Crítica

Cristiano Almeida

Uma estrutura com 8851 quilômetros de extensão que levou 1700 anos para ser construída. A grandiosidade da Muralha da China é vista nos números e em sua própria existência. Erguido ao longo de várias dinastias, o monumento protegeu o império chinês contra a invasão de povos vizinhos e tornou-se uma das grandes obras da humanidade. No entanto, há uma lenda sobre sua construção e é exatamente sobre ela que trata A Grande Muralha (The Great Wall).

A cada 60 anos seres chamados Tao Tei saiam de seu descanso para atacar os humanos e aumentar consideravelmente o número de criaturas. Liderados por uma rainha, os monstros devoravam tudo que encontram pela frente e, sem nenhum impedimento, poderiam aniquilar a humanidade. Próximo ao território dos bichos foi erguido o extenso muro, e para protegê-lo existia um grupo de centenas  e centenas de soldados trajando armaduras coloridas, a Ordem Sem Nome.

As armaduras vermelhas representavam os arqueiros, as pretas indicavam a tropa terrestre e as azuis formavam a Tropa Garça, que era composta apenas por mulheres. Lideradas pela general Lin (Jing Tian), as mulheres eram hábeis no uso de lanças e se atiravam da muralha amarradas em cordas (numa espécie de bungee jump da época) para enfrentar os monstros. É Lin a responsável por fazer a ponte entre a ordem e o personagem de Matt Damon, William, um exímio arqueiro.

Ele e Tovar (Pedro Pascal), seu parceiro em várias aventuras, acabam dando de cara com a ordem. Inicialmente prisioneiros, os homens demonstram seu valor e passam a integrar o exército na batalha mortal contra os monstros. Temos assim um trabalho semelhante ao de Tom Cruise em O Último Samurai, no qual um estrangeiro se depara com uma outra cultura e acaba se apaixonando pelo modo de vida.

Admirado com o sistema de organização e a honra dos soldados, Damon torna-se peça importante da estratégia de luta e deixa para trás um passado mais obscuro, Como o roteiro não dá muito espaço para o desenvolvimento do personagem, apenas ficamos sabendo de suas ações antigas por meio de insinuações de seu companheiro. A trama ainda envolve os personagens com a invenção da pólvora, mas de maneira superficial, já que o foco é mesmo nas sequências de ação.

Se considerarmos que o filme é comandado por Zhang Yimou, diretor de Herói e O Clã das Adagas Voadoras, não é de todo ruim que o longa use grande parte de seu tempo para o confronto entre soldados e Tao Teis. Conhecido por seu apurado senso estético, o cineasta sabe como filmar grandes exércitos em guerra para capturar o melhor da ação. Aqui, ele usa as cores das armaduras para coordenar os tipos de habilidades que serão demonstradas e transmite com isso um afinado sistema de comunicação entre os combatentes. Alie a tudo isso os grandes planos de câmera que contemplam as belezas naturais da região e temos uma produção com toda a pompa do cinema chinês.

Para quem esperava um pouco mais de base histórica para a composição da trama, A Grande Muralha deixa claro que essa nunca foi a intenção. Ao divertir sem o desejo de se aprofundar demais, a produção cumpre o que se propõe a fazer e acerta o alvo com a exatidão das flechas do arqueiro William.

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Jornalista apaixonado por cinema. Idealizou o blog com o desejo de partilhar as maravilhas da Sétima Arte com outros cinéfilos e quem mais se interessar pelo assunto.