
Entre os aliados de César havia Koba (Toby Kebbell), um macaco de laboratório que guardava um grande rancor pela raça humana. Seu ódio desencadeou um confronto com os homens, confronto este que tomou proporções maiores e culmina em A Guerra, o final da trilogia iniciada em 2011.
Tudo que César queria era viver em paz para cuidar de sua família e de seu grupo de seguidores. As ações de Koba, no entanto, continuavam a assombrar o bando, que se viu obrigado a enfrentar os últimos remanescentes do exército americano numa luta pela sobrevivência. Liderados pelo Coronel interpretado por Woody Harrelson, os soldados tinham como único objetivo dizimar os macacos, pois, influenciados pelo líder militar, acreditavam que essa era a única salvação para a humanidade.
Harrelson buscou inspiração no Coronel Walter E. Kurtz, papel de Marlon Brando em Apocalipse Now para construir seu personagem. Amargurado por uma tragédia familiar, o Coronel alimenta uma fantasia em sua mente e acredita apenas em seus princípios, chegando ao ponto de se voltar contra a própria corporação. Em contraparte, temos César, um líder cansado, relutante em tomar decisões que vão contra os conceitos pacifistas que sempre quis adotar.
A composição dessas incertezas recai novamente sobre o genial Andy Serkis. Mesmo sob a camada de pele digital, sobressai a brilhante interpretação do ator, que é captada pelo avançado sistema e-motion capture, ou seja, uma captura de movimentos que registra a interpretação como um todo: movimento corporal, voz, olhar, etc. Assim como a inteligência de César evoluiu, a tecnologia acompanhou e ficamos impressionados em ver a perfeição com a qual os primatas são reproduzidos na tela com o trabalho da Weta Digital.
Obviamente o filme tem César como o centro da trama, mas a produção fica mais completa quando nos deparamos com o elenco de apoio. Maurice (Karin Konoval) e Rocket (Terry Notary) representam as vozes na mente de César, a razão e a emoção, a alternância entre uma decisão movida por análise e outra por impulso. No campo das novas adições Steve Zahn rouba a cena como Bad Ape, um alívio cômico-dramático que intensifica a representação da crueldade humana, enquanto Nova (Amiah Miller), uma menina muda, nos traz uma variação do vírus.
A participação da garota vai muito além de um elemento visual para detalhar algo, contudo. Com o uso dos macacos como uma metáfora para demonstrar o tratamento de minorias frente aos atos de uma sociedade impiedosa, Nova simboliza muito mais. Seu olhar, seu sorriso, suas lágrimas por aqueles primatas, representa a empatia, um vislumbre de que com amor e respeito é possível a convivência de forma pacífica, sem os horrores da guerra e da violência.
São esses momentos singelos que ocupam grande parte da obra de Matt Reeves. Ao contrário do que nos passaram os trailers, a ação é pontual, demonstrando que uma guerra é mais que tiros e explosões, e pode ser exposta com outros significados quando tem como foco a luta pela sobrevivência, o sofrimento e o desejo de paz.
A opção de Reeves pode chegar a frustrar quem esperava um conflito mais intenso entre os dois líderes de suas respectivas raças. Porém, quando projetada para o futuro da franquia e para o que se vê no clássico filme de 1968, chegamos a conclusão que a sociedade do longa abriu caminho para sua própria decadência. Desse modo, não importava o que tentassem fazer, a Terra estava fadada a se tornar um Planeta dos Macacos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário