
O enredo dele recorre à psicologia para nos apresentar Kevin (James McAvoy), um rapaz que sofre de TDI (Transtorno Dissociativo de Identidade), diagnóstico que lhe confere outras personalidades. Entre homens, mulheres e crianças, Kevin alterna vinte e três personalidades e está prestes a despertar a vigésima quarta. Conforme anunciado no cartaz e ao longo da projeção para as três garotas que ele sequestra e encarcera, com um objetivo que vai muito além do ato criminoso, a nova identidade é a mais perigosa.
De todas essas variações psicológicas, Shyamalan foca em quatro para compor o desenvolvimento: o metódico Dennis, a amorosa Patricia, o sonhador Barry e o garoto de nove anos Hedwig. Cada variação não é criada ao acaso, pois mantêm uma relação importante com o passado de Kevin. Assim, elas surgem com um propósito especifico dentro da trama, que pode alternar entre o bem e o mal, dependendo do momento no qual a história se encontra e das surpresas que o diretor nos reserva.
O figurino ajuda na composição de cada personagem, definindo sua maneira de se vestir de acordo com as características especificadas no roteiro. Porém, é na performance de McAvoy que essas diferenças são trabalhadas de maneira excepcional. O ator, que já era elogiado por trabalhos anteriores, eleva seu nível de atuação com precisão e naturalidade. Os nuances das diferentes personalidades são percebidos na entonação da voz, no olhar, na postura, no jeito de andar, nos trejeitos e nas emoções que ele imprime de forma singular.
Essas emoções ficam mais evidentes com o estilo de filmagem de Shyamalan, que foca o rosto dos atores em vários close-ups. A opção de usar ângulos mais fechados revela-se também uma ferramenta narrativa para liberar as pistas aos poucos. Com isso, detalhes sutis são revelados em palavras e ações; o cenário é gradativamente ampliado para nos mostrar o porquê de certas soluções e partes importantes da trama surgem como num movimento de câmera que sai de um plano fechado para um plano aberto.
Conhecido pelos plot twists que insere em seus roteiros, Shyamalan sempre tem produções cercadas de expectativas. Em Fragmentado, a reviravolta no enredo é mais para justificar um direcionamento do que para impactar. O que o diretor nos prepara é muito mais abrangente e inesperado, pois, ao criar uma conexão com outra produção sua, percebemos qual sua intenção desde o início e ficamos ansiosos para saber qual o seu próximo passo. Só não demore tanto para voltar dessa vez, Shyamalan!
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