
Apresentados logo no início da produção, Mike Williams (Mark Wahlberg) e seu núcleo familiar, esposa e filha, nos trazem pistas da abordagem utilizada pelo diretor Peter Berg. Trata-se de uma abordagem que, por meio de situações cotidianas da família, indica que o acidente será reproduzido e os culpados serão apontados. Horizonte Profundo assume assim uma função dupla em seu triste relato.
Desse modo, a tensão que antecede o acidente está lá, insinuante, gradativa e cruel. A todo momento bolhas de ar - cada vez mais intensas - sobem à superfície vindas da base da plataforma e indicam que o perigo é iminente. Quando o acidente acontece, o resultado é impactante visualmente, tanto pela poderosa pressão que o líquido exerceu no sentido contrário ao movimento de perfuração, como pelo resgate dramático dos sobreviventes.
Peter Berg joga isso na tela literalmente, com a composição fotográfica suja pelos respingos do óleo e as chamas trazendo uma sensação de desespero. Enquanto uns se lançavam ao mar, outros tentavam salvar a própria pele e a de seus companheiros. Várias explosões secundárias aumentavam o drama dos homens e mulheres que lutavam pela sobrevivência, e a ação da Guarda Costeira Americana era limitada diante da grandiosidade do acidente.
Um acidente que foi causado pela pressão do fundo do oceano, mas motivado pela opressão do sistema capitalista. Com a extração atrasada, os empresários - representados por Vidrine (John Malkovich) - cometem um ato de negligência para recuperar o tempo perdido e não gastar mais dinheiro. Acontece que um simples procedimento padrão não realizado desencadeou uma desordem na engrenagem, com as consequências descritas nos números a seguir: 11 mortos, 16 feridos e uma mancha de petróleo que se espalhou por 1,5 mil quilômetros na costa dos EUA.
Os executivos que posavam sorridentes para as fotos, comemorando a coleta de milhares de barris de petróleo, deixaram o capitalismo falar mais alto. Porém, ao menosprezarem as orientações de pessoas preocupadas com o bem estar dos trabalhadores, como era o caso de Jimmy Harrell (Kurt Russell), acabaram por colaborar com a grandiosidade da tragédia.
Neste misto de relato e denúncia, o filme conquista o público com a tensão, o drama e a indignação. Quando dá espaço para o patriotismo americano e a obrigatoriedade de mostrar a bandeira tremulando, perde alguns pontos e começa a se parecer com tantos outros representantes do gênero. Sorte que isso seja passageiro e Horizonte Profundo termine não como mais um, mas como um representante digno do relato de vidas que foram ceifadas e de outras que tiveram uma segunda chance.
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