terça-feira, 14 de outubro de 2014

Trash: A Esperança Vem do Lixo – Crítica

Cristiano Almeida

Produção baseada no livro do escritor Andy Mulligan, Trash: A Esperança Vem do Lixo narra a história de Raphael, Gardo e Rato, garotos de uma comunidade carente do Rio de Janeiro que sobrevivem trabalhando em um lixão. Não só um retrato de uma triste realidade, o filme é uma abordagem da corrupção sob outra perspectiva.

Em substituição ao clima mais aventureiro do livro, o longa insere a trama entre a miséria e a ganância, entre a dignidade e a sordidez. Mas, como o título indica: “A Esperança Vem do Lixo”, e ela surge numa carteira encontrada por Raphael no meio das toneladas de restos.

Encontrar algumas dezenas de reais na carteira poderia significar para os meninos um alimento ou roupa melhor, mas o simples fato de achar o objeto, que tinha muito mais que dinheiro, representa a esperança para eles, para a comunidade e, consequentemente, para o dono da carteira, o assessor político José Angelo (Wagner Moura). Ele não poderia imaginar que a luta que vinha travando contra um dos grandes males da sociedade brasileira seria continuada pelos garotos, curiosos em solucionar um mistério, determinados em manter a dignidade e o único bem que lhes restava: o nome.

Diante dessa situação, o trio parte na empreitada para descobrir a verdade, mas acabam por confrontar o policial interpretado por Selton Mello. O personagem representa as ramificações da corrupção ao invés do cumprimento da lei, é ele quem suja as mãos para que seu patrão pose de exemplo para a sociedade. Para lidar com os perigos, os meninos contam com a ajuda do padre Julliard (Martin Sheen) e da professora de inglês Olivia (Rooney Mara).

Não só pela presença de atores estrangeiros, o longa também tem a participação gringa na direção. O cineasta Stephen Daldry mudou-se para o Brasil e passou a enxergar mais de perto a realidade dos morros; o resultado pode ser visto nos cenários, na reprodução daquele cotidiano e na trilha sonora, certeira por trazer letras que elucidam o modo de viver e pensar de muitos daqueles moradores.

No entanto, chega determinado momento em que a influência estrangeira acaba por ir contra a boa continuidade da história. Tanto o padre como a professora estão ali para compor uma situação, mas não têm um desenvolvimento importante. Na montagem do filme, os vídeos que a professora grava com os depoimentos dos meninos (muitas vezes em inglês) são lançados em momentos inoportunos e parecem fora de contexto. Seguem-se algumas situações inverossímeis e outras lançadas aleatoriamente sem continuidade, e a produção perde um pouco da força de sua proposta inicial.

Apesar desses pontos, Trash é um longa que merece ser conhecido e discutido, pois é um retrato da cruel realidade de muitas pessoas, de parte da política e da polícia brasileira, vista pelos olhos de meninos, meninos que tiveram de aprender desde cedo a se comportar como homens.

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Jornalista apaixonado por cinema. Idealizou o blog com o desejo de partilhar as maravilhas da Sétima Arte com outros cinéfilos e quem mais se interessar pelo assunto.