sexta-feira, 8 de abril de 2016

O Legado Bourne - Crítica

Cristiano Almeida

Um filme que se propõe a continuar a trajetória de uma franquia bem-sucedida tem um árduo trabalho pela frente. Primeiro deve manter o nível de seus antecessores, depois inovar, trazendo algo a mais para os fãs da franquia. O longa que se aventura nessa premissa é O Legado Bourne (The Bourne Legacy), produção que tenta dar sequência aos excelentes filmes protagonizados por Matt Damon. Tenta, mas não consegue.

A Identidade Bourne, produção baseada no livro de Robert Ludlum, trouxe uma atmosfera diferente aos longas de espionagem, com sequências mais realistas e alto nível de suspense. Suas duas continuações seguiram pelo mesmo caminho, e a trilogia acabou por influenciar o James Bond de Daniel Craig na utilização de uma narrativa semelhante. Para essa quarta produção, que pega emprestado apenas o título de um dos livros de Ludlum e cria uma trama original, vários elementos efetivos nos três primeiros filmes são eliminados para focar mais na ação.

Com a saída de Matt Damon, a solução foi criar um novo agente, aqui interpretado por Jeremy Renner. Ele é Aaron Cross, soldado treinado pelo mesmo programa de Jason Bourne. O vemos pela primeira vez em ação no Alasca, enquanto flashbacks e cortes para a sede da CIA vão explicando a trama. Cross é parte de um avanço no Programa Treadstone, mas as repercussões na mídia da ligação de Bourne com o programa fazem com que o coronel Eric Byer (Edward Norton) decida encerrar o experimento. Desse modo, ele ordena que os recrutas sejam eliminados um a um para acabar com qualquer vestígio que os liguem à CIA.

O filme demora para engrenar, ficando um pouco interessante após a tentativa de aniquilar Aaron. Porém, a expectativa não se confirma. Quando são inseridos outros programas de super agentes na história, o protagonista faz contato com a Dra. Marta Shearing (Rachel Weisz), médica responsável por criar pílulas que aumentam a resistência física e a capacidade cognitiva dos agentes, e a partir desses eventos ambos correm por suas vidas. Ou seja, enquanto nas outras produções tínhamos o suspense, a busca pela verdade e a ação em momentos cruciais, neste, temos correria e um agente muito mais físico em contraponto à frieza do anterior.

Jeremy Renner está bem no papel, tem boas cenas, mas o personagem não é trabalhado como deveria por culpa do roteiro de autoria de Tony e Dan Gilroy. Com várias inconsistências e pontas soltas, o script exagera em ampliar o universo da trama, trazendo elementos que não se encaixam na ambientação e propondo soluções pouco aceitáveis. O resultado é um soldado apenas fugindo de seus assassinos, porém, sem um motivo verdadeiramente convincente.

Tony Gilroy foi roteirista da trilogia e assumiu a direção após a saída de Paul Greengrass. Chega a ser estranho que suas ideias tão efetivas nos filmes anteriores não sejam empregadas nesta produção, e ele opte por citar e mostrar tantas vezes Jason Bourne. Com isso, ele indica a necessidade de ligação entre as produções, quando poderia relacioná-las e ainda assim ser autônomo.

Felizmente, as falhas encontram compensação em aspectos como a interpretação dos atores, do já citado Jeremy Renner, e também Edward Norton, que merecia mais espaço na história, e na trilha sonora de James Newton Howard, eficiente em acompanhar as lutas e os poucos momentos de suspense. Por fim, a ação é bem filmada, mas é prejudicada no clímax com o excesso de cortes na edição.

Ao final do filme, a sensação é de que O Legado Bourne poderia ter sido bem melhor se o roteiro expandisse o universo, mas de forma coerente, ou seja, inserisse o novo agente, mas não com tantas ideias engenhosas para sua existência. Tomara que o desejo de Tony Gilroy de colocar Jason Bourne e Aaron Cross juntos em um próximo longa se concretize, e o diretor volte a contar a história com as características marcantes da trilogia. Caso isso não aconteça, a nova franquia corre o risco de ter elementos de Bourne apenas no nome.

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Jornalista apaixonado por cinema. Idealizou o blog com o desejo de partilhar as maravilhas da Sétima Arte com outros cinéfilos e quem mais se interessar pelo assunto.