domingo, 11 de outubro de 2015

Peter Pan - Crítica

Cristiano Almeida

Peter Pan, Capitão Gancho, Sininho, Terra do Nunca..., elementos que fazem parte do clássico criado pelo escocês J. M. Barrie. Diante de um material tão conhecido da maioria das pessoas, qual a alternativa para trazer Peter Pan de volta aos cinemas? Prelúdio foi a solução encontrada pela Warner Bros. para expandir a história do menino que não queria crescer.

Conhecemos Peter ainda bebê, abandonado pela mãe (Amanda Seyfried) em um abrigo londrino em plena Segunda Guerra Mundial. Como qualquer órfão, o garoto cresce com o desejo de conhecer a mãe e sair daquele local. Passados doze anos, Peter (Levi Miller) finalmente se despede do abrigo, mas de uma maneira que nunca imaginou. Ele é raptado por piratas num navio voador e levado para a Terra do Nunca, um mundo de pura fantasia oprimido pelas ações de Barba Negra (Hugh Jackman).

Junto de outros garotos, Peter é recepcionado pelo pirata e seus comandados ao som de Smells Like Teen Spirit, do Nirvana, cantada em coro numa excelente sequência. A música é uma espécie de hino para a apresentação do excêntrico vilão, interpretado por Jackman com toda a caricatura e pompa teatral. Vestido como um conquistador, ele escraviza os garotos numa mina para que cavem até encontrar o Pixum (o pó de fadas em forma de cristal).

O modo de agir dele cria um paralelo interessante com a própria história de conquistadores, que, movidos pela ganância, dizimavam povos apenas para ficar com as riquezas que encontrassem. No caso do filme, os nativos da Terra do Nunca e as fadas eram as vítimas do ganancioso líder. Vivendo reclusos no meio da floresta, a tribo vê na chegada de Peter a chance de se cumprir uma antiga profecia.

Acontece que pensando em produzir uma trilogia, o roteiro de Jason Fuchs constrói a personalidade do menino no sentido oposto a que conhecemos. O garoto confiante, sem medo e arrogante não existe aqui, sendo retratado de forma insegura e questionador de sua capacidade. Ou seja, a ideia é mostrar que até chegar ao personagem clássico um longo caminho foi percorrido.

Para ajudar o jovem na luta contra Barba Negra temos a Princesa Tigrinha (Rooney Mara) e Hook (Garrett Hedlund). Acredite, o eterno inimigo de Peter Pan, Capitão Gancho, começa a história como aliado. No longa, ele está mais para uma mistura de Indiana Jones e Don Juan do que para o temível pirata.

Diferente da construção ainda tímida, no que se refere as características marcantes dos personagens, o diretor Joe Wright faz o oposto na composição do mundo em que tais personagens interagem. Com um visual arrebatador, o cineasta emprega uma fotografia que intensifica as sensações da cinzenta Londres, da suja e opressiva mina, e do colorido acampamento dos nativos.

Acostumado a comandar dramas de época (Orgulho e Preconceito, Desejo e Reparação), Wright exercita neste blockbuster seu poder de imaginação. Navios voadores, guerreiros tribais explodindo em fumaças coloridas, mundo secreto de fadas, tudo é possível na Terra do Nunca. O diretor tem uma gama de elementos para trabalhar e os conduz com domínio pleno do material, mostrando que sua direção vai além de filmes mais centrados no diálogo e na recriação histórica.

Para as pessoas que conhecem Peter Pan, este longa pode ser recebido com estranhamento em vários momentos. No entanto, o cânone, de forma sutil ou direta, se faz presente para ajudar a contar esta trama de origem. É uma produção que merece reconhecimento, seja pela iniciativa de se contar a história ainda não contada, seja pela ousadia em trazer uma visão moderna do personagem. Afinal, não é todo dia que se vê Peter Pan ao som de Nirvana, não é mesmo?

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Jornalista apaixonado por cinema. Idealizou o blog com o desejo de partilhar as maravilhas da Sétima Arte com outros cinéfilos e quem mais se interessar pelo assunto.