
Conhecemos Peter ainda bebê, abandonado pela mãe (Amanda Seyfried) em um abrigo londrino em plena Segunda Guerra Mundial. Como qualquer órfão, o garoto cresce com o desejo de conhecer a mãe e sair daquele local. Passados doze anos, Peter (Levi Miller) finalmente se despede do abrigo, mas de uma maneira que nunca imaginou. Ele é raptado por piratas num navio voador e levado para a Terra do Nunca, um mundo de pura fantasia oprimido pelas ações de Barba Negra (Hugh Jackman).
Junto de outros garotos, Peter é recepcionado pelo pirata e seus comandados ao som de Smells Like Teen Spirit, do Nirvana, cantada em coro numa excelente sequência. A música é uma espécie de hino para a apresentação do excêntrico vilão, interpretado por Jackman com toda a caricatura e pompa teatral. Vestido como um conquistador, ele escraviza os garotos numa mina para que cavem até encontrar o Pixum (o pó de fadas em forma de cristal).
O modo de agir dele cria um paralelo interessante com a própria história de conquistadores, que, movidos pela ganância, dizimavam povos apenas para ficar com as riquezas que encontrassem. No caso do filme, os nativos da Terra do Nunca e as fadas eram as vítimas do ganancioso líder. Vivendo reclusos no meio da floresta, a tribo vê na chegada de Peter a chance de se cumprir uma antiga profecia.
Acontece que pensando em produzir uma trilogia, o roteiro de Jason Fuchs constrói a personalidade do menino no sentido oposto a que conhecemos. O garoto confiante, sem medo e arrogante não existe aqui, sendo retratado de forma insegura e questionador de sua capacidade. Ou seja, a ideia é mostrar que até chegar ao personagem clássico um longo caminho foi percorrido.
Para ajudar o jovem na luta contra Barba Negra temos a Princesa Tigrinha (Rooney Mara) e Hook (Garrett Hedlund). Acredite, o eterno inimigo de Peter Pan, Capitão Gancho, começa a história como aliado. No longa, ele está mais para uma mistura de Indiana Jones e Don Juan do que para o temível pirata.
Diferente da construção ainda tímida, no que se refere as características marcantes dos personagens, o diretor Joe Wright faz o oposto na composição do mundo em que tais personagens interagem. Com um visual arrebatador, o cineasta emprega uma fotografia que intensifica as sensações da cinzenta Londres, da suja e opressiva mina, e do colorido acampamento dos nativos.
Acostumado a comandar dramas de época (Orgulho e Preconceito, Desejo e Reparação), Wright exercita neste blockbuster seu poder de imaginação. Navios voadores, guerreiros tribais explodindo em fumaças coloridas, mundo secreto de fadas, tudo é possível na Terra do Nunca. O diretor tem uma gama de elementos para trabalhar e os conduz com domínio pleno do material, mostrando que sua direção vai além de filmes mais centrados no diálogo e na recriação histórica.
Para as pessoas que conhecem Peter Pan, este longa pode ser recebido com estranhamento em vários momentos. No entanto, o cânone, de forma sutil ou direta, se faz presente para ajudar a contar esta trama de origem. É uma produção que merece reconhecimento, seja pela iniciativa de se contar a história ainda não contada, seja pela ousadia em trazer uma visão moderna do personagem. Afinal, não é todo dia que se vê Peter Pan ao som de Nirvana, não é mesmo?
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