quinta-feira, 14 de maio de 2015

Mad Max: Estrada da Fúria - Crítica

Cristiano Almeida

A mente criativa de George Miller concebeu um dos grandes personagens de ação da história do cinema. Com sua mistura de homem-da-lei e justiceiro, Mad Max patrulhava as estradas de um mundo pós-apocalíptico na tentativa de barrar as ações de criminosos numa terra de ninguém. Trinta anos depois o personagem volta ao cinema num filme de ação espetacular e com novo intérprete (Tom Hardy assume o posto deixado por Mel Gibson).

Hardy encarna um Mad Max que vaga sem rumo pelo deserto, atormentado por lembranças de um passado doloroso e perseguido por grupos de saqueadores. Em uma dessas perseguições, acaba capturado e levado para a Cidadela, um local comandado por Immortan Joe (Hugh Keays-Byrne). Immortan é retratado como o líder de uma seita que se utiliza das necessidades de seus seguidores para manter seu poder, neste caso, água e alguma ideologia que traga refúgio em palavras.

Aprisionado, Max cruza o caminho da Imperatriz Furiosa (Charlize Theron), uma mulher que tenta salvar as esposas de Joe de um destino opressor. Elas representam o futuro daquele cenário desolador, e Furiosa tem motivos muito pessoais para não querer que elas sirvam ao regente. É nessa situação que o justiceiro, relutantemente a principio, encontra uma forma de redenção para seus tormentos dentro da jornada da Imperatriz e, assim, acaba por ser um coadjuvante dentro de seu próprio filme.

Cabe a Tom Hardy encarnar o típico personagem de faroeste: calado, porém mortal. Tal característica é a base do longa: poucos diálogos e foco na ação. Um comboio atravessando uma perigosa estrada, criminosos de várias gangues tentando abordá-lo e diferentes formas de retratar essas abordagens fazem de Mad Max um dos grandes representantes do gênero. Miller utiliza efeitos práticos (os carros realmente colidem), filma a ação de forma magistral e proporciona diversão pura.

Gravado no deserto da Namíbia, o filme é repleto de cenas em grandes planos gerais, nos dando a exata perspectiva do território e da ação; a fotografia, certeira nas mudanças de ambiente e clima do deserto, é incrível; até a trilha sonora é parte importante da narrativa. Ela é empregada não como um complemento técnico, mas como um acompanhamento da ação (um guitarrista deformado fica preso a um dos carros de guerra). Algo que pareceria estranho, mas funciona perfeitamente dentro da ambientação e do visual da produção.

Porém, é nos veículos de guerra que Miller emprega toda sua engenhosidade. O diretor pega carcaças de automóveis para criar novas possibilidades: big foots, carretas, motocicletas, carros com esteiras de tanques de guerra, tudo é manifestado como extensão da própria personalidade dos personagens. O caminhão-pipa de Furiosa, por exemplo, transporta literalmente a esperança, a chance de o mundo voltar a ser o que era antes da loucura da humanidade.

Esse regresso nas atitudes humanas para com o próximo é retratado de forma cruel em Mad Max. Os mais fortes sobrepujam os mais fracos, os bens, como água e o petróleo, são alvo de disputas violentas, e a humanidade carrega praticamente um único instinto: a sobrevivência. E não é só em atitude que os humanos mudam na concepção de George Miller. O cineasta abraça de vez a ideia da mutação na franquia e cria seres que, em alguns casos, beiram o grotesco.

Contudo, embora carregue consigo um ponto de alerta, que esperamos nunca presenciar, o filme corre o risco de não trazer o retorno esperado. A estratégia ousada de trazer de volta um personagem trinta anos depois e o alto custo de produção (US$ 200 milhões) fazem de Mad Max um longa que pode fracassar financeiramente e encerrar a franquia. Infelizmente, muitos espectadores da geração atual estão mais interessados em acompanhar adaptações de livros e desconhecem a importância de Mad Max para o cinema. Assim como a sobrevivência no mundo do filme parece incerta, espero que a previsão também esteja.

2 comentários:

  1. Oi, Cristiano!
    Estava falando hoje com os meus pais que estou doida para assistir (Apesar de não ter visto a versão antiga. Mas mesmo assim sei da importância dos filmes para a história do cinema).
    Fiquei sabendo mesmo que os efeitos são "reais", com colisões e explosões de verdade.
    Gosto muito do Tom Hardy e da Charlize Theron e tenho certeza que os dois estão incríveis no papel.
    Adoro quando a trilha sonora conta junto a história do filme.
    :D

    Beijoooos

    www.casosacasoselivros.com

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    1. Oi Teca!
      Muito bom saber que, mesmo não conhecendo os filmes com Mel Gibson, você sabe da importância deles para o cinema. Esta produção precisa de mais pessoas interessadas em conhecer o personagem para que tenhamos a possibilidade de acompanharmos outros longas.
      George Miller utilizou muito bem o orçamento: efeitos práticos, paisagens reais...tudo colabora para a sensação realista do filme. A solução encontrada por ele para inserir a trilha sonora foi muito boa. Curti muito!
      Fiquei sabendo que Tom Hardy e Charlize Theron discutiram no set. Sorte que isso não comprometeu o resultado de suas ótimas atuações.
      Depois de assistir ao filme, aguardo suas impressões neste espaço.

      Obrigado pela visita!

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Editor

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Jornalista apaixonado por cinema. Idealizou o blog com o desejo de partilhar as maravilhas da Sétima Arte com outros cinéfilos e quem mais se interessar pelo assunto.