sábado, 14 de março de 2015

Kingsman: Serviço Secreto – Crítica

Cristiano Almeida

Imagine os conceitos de filmes e séries de espionagem aplicados à realidade. Agora tente imaginar como seria uma produção que homenageia e satiriza o gênero tudo em um mesmo pacote. Bem, é disso que trata Kingsman: Serviço Secreto (Kingsman: The Secret Service), adaptação da HQ homônima escrita por Mark Millar e ilustrada por Dave Gibbons.

Os espiões, seja nas versões sérias: James Bond, Jason Bourne, ou nas satíricas: Austin Powers, Agente 86, servem de base para esse longa, que tem vários trunfos a seu favor: ótimo elenco, direção inspirada, bom roteiro e cenas de luta empolgantes e bem editadas.

Na direção temos Matthew Vaughn, cineasta que já conhece o trabalho de Mark Millar, pois adaptou Kick-Ass. Sendo assim, o diretor tem convicção na forma de retratar a violência característica dos títulos do quadrinista. Empregando vários recursos técnicos, que vão desde a trilha sonora até elementos de animação, Vaughn expõe a violência, mas sabe quando censurá-la.

Em toda a parte técnica o filme é bem sucedido. Um solo de guitarra nos minutos iniciais e um acompanhamento que empolga, muitas vezes de forma irônica, fazem da trilha um elemento importante para a obra; as lutas (frenéticas) são conduzidas num excelente trabalho de coreografia; Design de produção e cenografia recriam toda a elegância e tradição de Londres em veículos, fachadas de prédios, interiores de apartamentos e lojas.

Toda essa estrutura do longa caminha em harmonia para contar a história de Gary "Eggsy" Unwin (Taron Egerton), jovem com vários talentos, mas que os desperdiça cometendo pequenos delitos e criando confusão. Enxergando mais do que um garoto rebelde, Harry "Galahad" Hart (Colin Firth) recruta Eggsy para a Kingsman, uma organização secreta de espiões.

Maravilhado com as possibilidades e os gadgets, o jovem aceita participar do treinamento. Nesse ponto, é interessante como o desenvolvimento de Eggsy é trabalhado com várias de suas habilidades das ruas contribuindo para sua evolução. Um exemplo é a facilidade de movimentação pela prática do Parkour.

Outra grande sacada do roteiro é vista nas personalidades dos espiões. Assim, históricos personagens da literatura inspiram nobres guerreiros que vestem ternos elegantes ao invés de armaduras. Em complemento, os nomes e as qualidades deles vem dessa inspiração: Arthur (o líder), Merlin (o sábio), Lancelot (o corajoso)...

Como não poderia deixar de ser numa obra que bebe da fonte da espionagem, o antagonista é um sujeito excêntrico e com planos de dominar o mundo. O desempenho desse papel coube a Samuel L. Jackson na pele de Valentine, um empreendedor que aplica sua ideia megalomaníaca ao conceito tecnológico atual. A construção do personagem, porém, acaba por prejudicar a excelência do filme. Caracterizado por uma língua presa - que fica ainda pior no estilo Patolino da versão dublada - Valentine necessita da violência para concluir seus planos, mas tem aversão ao que ela implica; ele mata, mas não gosta de sangue. Ou seja, suas atitudes destoam de sua motivação.

Ainda bem que o vilão é acompanhado pelo clássico capanga. E aí que entra a figura de Gazelle (Sofia Boutella), uma perigosa mulher que utiliza próteses de metal nas duas pernas, as quais possuem lâminas capazes de cortar um homem ao meio. Ela é responsável pelas melhores cenas de ação do longa e gera grande expectativa para o confronto final.

Com isso, elementos clássicos, referências ao mundo da espionagem do cinema e das séries, e a criação de sua própria identidade fazem de Kingsman um ótimo começo para uma promissora franquia. Os cavalheiros certamente terão a oportunidade de desfilar seus ternos bem cortados e salvar o mundo, sem perder a elegância e desperdiçar um bom whisky.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Editor

Minha foto
Jornalista apaixonado por cinema. Idealizou o blog com o desejo de partilhar as maravilhas da Sétima Arte com outros cinéfilos e quem mais se interessar pelo assunto.