Cristiano Almeida
Peter Jackson conseguiu novamente. Com O Hobbit: A Batalha
dos Cinco Exércitos (The Hobbit: The Battle of the Five Armies), o cineasta
conclui mais uma trilogia adaptada da obra de Tolkien. Propondo um sentido de ligação e até de semelhança em alguns pontos com os eventos de O Senhor dos Anéis, Jackson encerra sua participação no universo da Terra-média entre erros
e acertos.

O filme começa com o poderoso dragão Smaug rumando furioso
para a Cidade do lago, disposto a destruí-la pela audácia dos anões em
incomodá-lo de seu descanso nas entranhas da Montanha Solitária. Com a ausência
do dragão e com todo o ouro disponível no local, começa uma luta pela divisão
das riquezas. Anões, sob a liderança de Thorin Escudo-de-Carvalho (Richard
Armitage), querem manter a herança de seus antepassados; humanos buscam seu
pagamento por um acordo firmado com os primeiros; elfos desejam gemas brancas
de rara concepção e os orcs entram no meio da batalha com o interesse de controlar uma posição estratégica de ampliação dos
domínios.
Essa luta pelo ouro rende bons momentos de conflito entre
Thorin, o hobbit Bilbo (Martin Freeman) e Bard, o arqueiro (Luke Evans), que
acaba por se tornar um líder relutante em ajuda ao povo da Cidade do lago. A
cobiça de Escudo-de-Carvalho o faz questionar a lealdade de seu irmãos, e
apresenta nuances interessantes na performance de Armitage, com uma mescla de liderança e autoridade, sanidade e loucura.
Em contraponto, Bilbo é aquele indivíduo que procura manter
o rumo correto dos acontecimentos, apresentando-se com uma coragem que extrapola
seu tamanho diminuto. Ele é o elemento que, quando parece não haver mais
esperança, se candidata a uma missão em beneficio de todos. Podemos notar essa mesma determinação quando Frodo aceita o fardo de destruir o Um Anel. Ou seja, a coragem vem de família.
As referências aos acontecimentos de A Sociedade do Anel são bem dispostas em
diálogos, objetos e num momento crucial para o início da produção. Na
cena ambientada nas ruínas de Dol Guldur, Gandalf, Galadriel, Elrond, Saruman e
Radagast enfrentam o poder de Sauron e dos espectros. Com uma fotografia
inerente à presença do servo de Morgoth e uma incrível demonstração da força dos personagens, a sequência enaltece a qualidade do longa em termos de
batalhas ao mesmo tempo em que colabora para um melhor entendimento dos eventos
da trilogia original.
Assim, a narrativa repleta de similaridades é certeira em vários pontos, mas não mantém esse padrão por toda a projeção. As
liberdades criativas que o diretor tomou para enriquecer a trama de um livro e
produzir mais filmes não funcionam tão bem neste encerramento. Um personagem
como Alfrid, o servo do Senhor da Cidade, é tão desprezível em atitudes como
descartável para a trama; a motivação de Legolas (Orlando Bloom), um dos
melhores coadjuvantes de O Senhor dos Anéis, fica condicionada aos rumos que a
elfa Tauriel (Evangeline Lilly) toma em busca de seu amor proibido, amor este
que tende a se identificar com o romance de Arwen e Aragorn, mas sem o mesmo espaço e brilho.
Ao optar por dar mais atenção a tramas menores, o roteiro
desperdiça a chance de trabalhar melhor personagens como Beorn, visto no clímax por um breve momento, sem nenhum suspense de sua importante
chegada junto das águias, que no livro representam o quinto exército e são decisivas para o encerramento da guerra. Nas batalhas, tecnicamente, Jackson demonstra a
habilidade de sempre, com aproveitamento das paisagens naturais neozelandesas e
grandes planos que mostram o quão épicos são os embates. Porém, no
desenvolvimento delas, acaba perdendo a direção, lançando muitos conflitos
paralelos entre as diferentes raças, deixando-os sem uma conclusão devida para focar
somente na resolução das lutas pessoais de Thorin e Legolas com os orcs Azog e Bolg, respectivamente.
Apesar das decisões contestáveis, a produção conclui a jornada
do hobbit Bilbo Bolseiro e nos dá mais detalhes dos relatos que ele narra no livro
Lá e de Volta Outra Vez. Não chega a ser equivalente em qualidade a
trilogia original, mas termina como um bom prelúdio para a clássica aventura de
Frodo e da Sociedade do Anel.
Leia a crítica de O Hobbit: A Desolação de Smaug
Leia a critica de O Hobbit: Uma Jornada Inesperada
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