quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos – Crítica

Cristiano Almeida

Peter Jackson conseguiu novamente. Com O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos (The Hobbit: The Battle of the Five Armies), o cineasta conclui mais uma trilogia adaptada da obra de Tolkien. Propondo um sentido de ligação e até de semelhança em alguns pontos com os eventos de O Senhor dos Anéis, Jackson encerra sua participação no universo da Terra-média entre erros e acertos.

O filme começa com o poderoso dragão Smaug rumando furioso para a Cidade do lago, disposto a destruí-la pela audácia dos anões em incomodá-lo de seu descanso nas entranhas da Montanha Solitária. Com a ausência do dragão e com todo o ouro disponível no local, começa uma luta pela divisão das riquezas. Anões, sob a liderança de Thorin Escudo-de-Carvalho (Richard Armitage), querem manter a herança de seus antepassados; humanos buscam seu pagamento por um acordo firmado com os primeiros; elfos desejam gemas brancas de rara concepção e os orcs entram no meio da batalha com o interesse de controlar uma posição estratégica de ampliação dos domínios.

Essa luta pelo ouro rende bons momentos de conflito entre Thorin, o hobbit Bilbo (Martin Freeman) e Bard, o arqueiro (Luke Evans), que acaba por se tornar um líder relutante em ajuda ao povo da Cidade do lago. A cobiça de Escudo-de-Carvalho o faz questionar a lealdade de seu irmãos, e apresenta nuances interessantes na performance de Armitage, com uma mescla de liderança e autoridade, sanidade e loucura.

Em contraponto, Bilbo é aquele indivíduo que procura manter o rumo correto dos acontecimentos, apresentando-se com uma coragem que extrapola seu tamanho diminuto. Ele é o elemento que, quando parece não haver mais esperança, se candidata a uma missão em beneficio de todos. Podemos notar essa mesma determinação quando Frodo aceita o fardo de destruir o Um Anel. Ou seja, a coragem vem de família.

As referências aos acontecimentos de A Sociedade do Anel são bem dispostas em diálogos, objetos e num momento crucial para o início da produção. Na cena ambientada nas ruínas de Dol Guldur, Gandalf, Galadriel, Elrond, Saruman e Radagast enfrentam o poder de Sauron e dos espectros. Com uma fotografia inerente à presença do servo de Morgoth e uma incrível demonstração da força dos personagens, a sequência enaltece a qualidade do longa em termos de batalhas ao mesmo tempo em que colabora para um melhor entendimento dos eventos da trilogia original.

Assim, a narrativa repleta de similaridades é certeira em vários pontos, mas não mantém esse padrão por toda a projeção. As liberdades criativas que o diretor tomou para enriquecer a trama de um livro e produzir mais filmes não funcionam tão bem neste encerramento. Um personagem como Alfrid, o servo do Senhor da Cidade, é tão desprezível em atitudes como descartável para a trama; a motivação de Legolas (Orlando Bloom), um dos melhores coadjuvantes de O Senhor dos Anéis, fica condicionada aos rumos que a elfa Tauriel (Evangeline Lilly) toma em busca de seu amor proibido, amor este que tende a se identificar com o romance de Arwen e Aragorn, mas sem o mesmo espaço e brilho.

Ao optar por dar mais atenção a tramas menores, o roteiro desperdiça a chance de trabalhar melhor personagens como Beorn, visto no clímax por um breve momento, sem nenhum suspense de sua importante chegada junto das águias, que no livro representam o quinto exército e são decisivas para o encerramento da guerra. Nas batalhas, tecnicamente, Jackson demonstra a habilidade de sempre, com aproveitamento das paisagens naturais neozelandesas e grandes planos que mostram o quão épicos são os embates. Porém, no desenvolvimento delas, acaba perdendo a direção, lançando muitos conflitos paralelos entre as diferentes raças, deixando-os sem uma conclusão devida para focar somente na resolução das lutas pessoais de Thorin e Legolas com os orcs Azog e Bolg, respectivamente.

Apesar das decisões contestáveis, a produção conclui a jornada do hobbit Bilbo Bolseiro e nos dá mais detalhes dos relatos que ele narra no livro Lá e de Volta Outra Vez. Não chega a ser equivalente em qualidade a trilogia original, mas termina como um bom prelúdio para a clássica aventura de Frodo e da Sociedade do Anel.

Leia a crítica de O Hobbit: A Desolação de Smaug
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Jornalista apaixonado por cinema. Idealizou o blog com o desejo de partilhar as maravilhas da Sétima Arte com outros cinéfilos e quem mais se interessar pelo assunto.